O grande produtor do café Kopi Luwak é menor do que você esperava. A bebida depende do trabalho dos civetas, que são pequenos mamíferos parecidos com uma mistura de guaxinim e fuinha, como este da foto.

A especificidade deste processo de produção confere um sabor particular ao café mais caro do mundo, atraindo turistas de toda parte até a Indonésia, país de origem da iguaria, interessados em pagar pela experiência gastronômica.

Afinal, o que é Kopi Luwak?

Kopi luwak é o nome indonésio para “café civeta”, em homenagem aos pequenos animais que preparam os grãos de café no sistema digestivo.

Isso mesmo. Faz parte da dieta natural dos civetas comer frutos de café, então o corpo deles absorve os nutrientes da polpa e joga fora os grãos pelas fezes. Manualmente, alguém precisa limpar estes grãos para que eles sejam utilizados na bebida kopi luwak.

O processo é lento, porque tanto depende de fatores da natureza, como do trabalho manual de mão-de-obra. Mais a frente veremos que o mercado tem acelerado este processo por meio de algumas intervenções polêmicas.

Café Kopi Luwak: de onde é e como surgiu?

Grãos de café. Fonte: Pixabay

A história do café kopi luwak na Indonésia se assemelha bastante com a história popular que temos sobre a feijoada no Brasil.

Tudo começa com a época colonial no século XVIII. Os colonizadores holandeses proibiam os nativos de plantar grãos de café ou de consumir a colheita. Com o tempo nas lavouras, perceberam grãos descartados nas fezes dos animais que podiam ser reaproveitados.

Um pouco parecido com a feijoada, cuja lenda popular atribui o nascimento do prato ao reaproveitamento, pelos escravos, das partes do porco descartadas pelos senhores no Brasil do século XIX.

Quanto custa o café Kopi Luwak?

A cotação em dólar do kopi luwak é de aproximadamente 100 dólares para 100 gramas. O preço é amargo, mas o sabor promete notas de chocolate.

Em uma rápida busca pelo site de compras eBay, você encontra ofertas de algumas marcas industrializadas, que oferecem 100 gramas por algo entre R$400 e R$500 reais pelo pacote de café kopi luwak.

Qual o sabor do Kopi Luwak?

Café servido. Fonte: Pixabay

Vamos ao mais intrigante: qual o sabor do kopi luwak? Afinal, além de exclusivo, o café custa alto e hoje é o mais caro do mundo.

Alguns críticos descrevem o kopi luwak como um café sóbrio, com sabores realçados de chocolate e vinho tinto, sem pesar no amargor da bebida e, ao mesmo tempo, sem deixá-la doce.

Outros já preferem lembrá-lo como uma mistura de suco de uva, só que menos ácido.

Além disso, a menor acidez resplandece um aroma agradável e característico, levando os especialistas do mundo a tecer muitos elogios ao café.

Como é feito o Kopi Luwak?

Preparação do café. Fonte: Pixabay

Já vimos que os grãos passam antes pelo sistema digestivo do civeta, são fermentados pelo sistema gastrointestinal e coletados depois nas fezes dos animaizinhos.

Mas é importante lembrar que os grãos que chegam até este fim não são qualquer um. A qualidade do produto final é bem superior, uma vez que os animais escolhem os melhores frutos de café para se alimentar: maduros e doces. São, por isso, selecionadores especiais.

Após o insumo ser expelido pelas fezes do civeta, os trabalhadores realizam a coleta, a separação e a lavagem dos grãos. A próxima fase é de secagem e torragem.

O estágio de torragem dos grãos é de torrefação leve e resfriamento rápido, para não prejudicar o gosto típico. A produção anual do café mais caro do mundo é baixa, variando de 250 a 400 quilos, o que contribui para o aumento do valor e da restrição de mercado.

Ao contrário do que algumas pessoas pensam, o fato de que os grãos foram retirados das fezes não é prejudicial à saúde humana, pois o processo de torragem do café, através do excesso de calor, elimina os perigos e as ameaças sanitárias.

Como é o mercado de Kopi Luwak no Brasil?

Bebida de café e grãos. Fonte: Pixabay

Este café não é o mais caro do mundo sem motivo. O crescimento da demanda por curiosidade quanto ao sabor e a qualidade dos grãos retirados das fezes do civeta está em evidência.

Por conta disso, grandes cadeias de franquia de café ainda não conseguem disponibilizar esta especiaria ao grande público.

No entanto, a compra sob demanda em sites especializados de café ou de importação é possível. Como dito antes, a produção é bem restrita e assim também os canais de venda. Outro fator encarecedor são os tributos e as taxas aduaneiras de envio e entrada no país.

Por conta da acessibilidade, os brasileiros tendem a consumir mais o café de jacu, derivado de produção semelhante, a partir das fezes da ave jacu, originária da América do sul e, por isso, com uma logística nacional facilitada.

O outro lado do turismo de café: o confinamento de civetas

Civetas em cativeiro. Fonte: Pixabay

Como o café mais caro depende das fezes e do sistema gastrointestinal de um tipo de animal específico, este mamífero passou a ser explorado na Indonésia e nas ilhas da região para movimentar mais dinheiro.

Sabemos que os civetas são de hábito noturno e também se alimentam de outros ingredientes, além dos frutos de café, por isso os donos do negócio não têm controle sobre a quantidade de produto e a velocidade de produção da bebida se respeitarem o ritmo natural do mamífero.

Por isso, civetas têm sido enjaulados para atender a duas demandas de mercado: a primeira delas é turística.

Principalmente na ilha de Bali, os turistas gostam de ver como o café é feito desde o primeiro momento de evacuação do animal. Por isso existe procura pelos bichos como uma atração a parte.

A segunda demanda é dada pelo aumento da procura deste tipo de café, não só na Indonésia e na região asiática, como nos demais países do mundo.

No entanto, o Instituto de proteção World Animal Protection deixa um alerta sobre as condições de crueldade animal incorporadas ao circuito de café como parte da experiência.

Atendendo à preocupação ambiental, algumas marcas inglesas e holandesas já adotaram certificações “livre de gaiola”, espécie de selo sobre a procedência dos grãos, comprando apenas de fornecedores que não exploram o cativeiro de animais.