Que o Brasil é o maior produtor de café do planeta quase todo mundo sabe. O que talvez você não saiba é que essa potência cafeeira começou com grãos de café arábica trazidos de forma clandestina para o país.
Sim, senta que lá vem história, porque hoje vamos falar sobre o café arábica. E já que ele é peça vital na economia e ocupa grande parte das plantações de café no país, temos muito o que descobrir sobre ele. Confira suas características, melhores formas de preparo e quais são as variantes da espécie.
Lá no final do artigo, você vai descobrir como foi a trajetória dos grãos de café arábica pelo mundo até encontrar o solo fértil da nossa terrinha.
Principais características do café arábica
Devido à sua composição química, o café arábica possui sabor mais suave, levemente mais adocicado e ácido que o robusta. O percentual de cafeína presente em seus grãos, por exemplo, varia entre 0,8% e 1,4% (o robusta é de 1,7% a 4%) e o teor de açúcar flutua entre 6% e 9% (enquanto no robusta vai de 3% a 7%).
Além disso, com respeito aos óleos essenciais, as espécies de café arábica acumulam de 15% a 17%. Por outro lado, as robustas oferecem algo entre 10% a 12%. Ao mesmo tempo, a forma como o café é processado é diferente, muitas vezes passando por torra mais clara, o que preserva seus componentes antioxidantes.
Você sabe o que os óleos essenciais fazem em nosso organismo? Esses componentes combatem a morte precoce das células e o aparecimento de células anormais ou defeituosas que levam ao câncer. Ou seja, apesar de apresentar menos cafeína que outros tipos de café, os benefícios para a saúde do café arábica vão muito além da energia que a bebida dá.
Além disso, o consumo moderado de cafeína também está ligada à diminuição do estresse e ao combate aos sintomas da depressão.
Café 100% arábica – O que isso significa?
Você já reparou nas embalagens de café a frase “100% arábica”? Isso significa que o produto é composto inteiramente de grãos de café arábica. Por isso, o sabor predominante será de apenas um tipo de grão.
Normalmente, os cafés comercializados no Brasil seguem os padrões de qualidade que a ABIC determina. Você pode conferir isso procurando o selo da instituição na embalagem do seu café. Além disso, o produto é avaliado e recebe uma pontuação que o classifica entre Extra Forte, Tradicional, Premium ou café Gourmet.
E o que são blends?
Blend significa mistura ou uma combinação de variedades de frutos, com o objetivo de elevar a qualidade de uma bebida. Assim como no caso dos vinhos, que podem ter até 13 espécies em uma mesma garrafa, o café pode ser composto por mais de um tipo de grão.
Normalmente, um vinicultor escolhe uvas diferentes para produzir um vinho com sabores equilibrados e ricos. Dessa forma, as propriedades de uma variedade destacam as qualidades ou disfarçam defeitos de outra. O resultado é um vinho agradável aos olhos e ao paladar.
No caso dos cafés, o produtor pode mesclar diferentes grãos de arábica e robusta para obter um café mais equilibrado em sabor e aroma. Ao mesmo tempo, isso diminui os custos e influencia no preço do café para o consumidor. Afinal, a produção de café arábica é bem mais dispendiosa do que cultivar café robusta.
Então, os blends geralmente custam mais barato que o café 100% arábica e ainda oferecem produtos de boa qualidade.
Formas de preparar o café arábica
Existem várias maneiras de preparar uma xícara de café, e cada método tem suas próprias características que afetam o sabor, aroma e corpo da bebida. Confira alguns dos métodos mais populares de se preparar o café arábica:
Moka ou cafeteira italiana
Esta cafeteira usa pressão para extrair o café. A água é aquecida na base e passa através de um filtro de metal que comporta o café moído até à parte superior. O resultado é uma bebida com sabor forte e encorpado.
Coador de pano ou papel
Quase toda casa tem um coador de pano ou filtro de papel. Nesse caso, o pó é colocado direto no filtro e você despeja água fervente sobre ele. Aos poucos, a água extrai os óleos essenciais dos grãos moídos e o resultado é um café mais claro e menos intenso que o feito na cafeteira italiana.
Prensa francesa
Na prensa francesa vai tudo para dentro da jarra de vidro: água quente e café moído. Nesse caso, o método de extração é a infusão. Ou seja, quanto mais tempo você esperar antes de pressionar o êmbolo dentro da jarra, mais sabor e corpo a bebida vai ter.
Cold Brew
O método de preparo de café conhecido como Cold Brew é uma forma refrescante de extrair o sabor dos grãos de café. Nesse processo, café moído grosseiramente é misturado com água fria e deixado em infusão por um período prolongado, geralmente durante a noite, para criar uma bebida suave e de baixa acidez.
O resultado é um café gelado que surpreende pelo seu sabor doce e equilibrado, uma opção ideal para os amantes de café que buscam uma alternativa refrescante ao café quente tradicional.
O Cold Brew ganhou popularidade por sua versatilidade e capacidade de ser saborizado com xaropes, leite ou apenas servido com gelo para uma bebida perfeita em dias quentes de verão.
Espresso
Principalmente em cafeterias, o café espresso é resultado da passagem de água quente sob alta pressão pelo café arábica moído em gramatura bem fina. O resultado é um café forte e concentrado, com espuma ou crema espessa.
Cada um desses métodos oferece uma experiência única de degustação, e a escolha do método depende do seu gosto pessoal. Aliás, experimentar diferentes métodos pode ser uma ótima maneira de descobrir qual você mais gosta.
Tipos de café arábica produzidos no Brasil
Arábica Acaiá
O café Arábica Acaiá é uma variedade com sabor suave. Nativo do Brasil, ele é cultivado principalmente em regiões montanhosas e de alta altitude, como Minas Gerais e Espírito Santo.
Esses terroirs oferecem as condições ideais para o desenvolvimento do Acaiá, que se destaca por seus grãos de tamanho médio, corpo aveludado e uma acidez na medida certa, com aroma delicado e levemente frutado.
Por apresentar características sensoriais únicas, o café Arábica Acaiá é muito valorizado por apaixonados por café em todo o mundo e representa uma das joias da produção cafeeira do Brasil.
Saiba mais sobre terroir: Conheça os Tipos de Café e suas Diferenças!
Arábica Icatu
Outra variedade cultivada no Brasil é o café Arábica Icatu, desenvolvida para resistir a doenças e adaptada a diferentes condições de cultivo nos cafezais do país. Regiões como Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia produzem grãos de Icatu, que são conhecidos por seu sabor suave, corpo médio e acidez equilibrada.
No caso dessa variedade, seus grãos apresentam notas florais e cítricas, resultando em uma bebida que provoca sensações únicas no paladar dos consumidores. Já para os produtores, é a sua resistência a doenças que fazem dela uma escolha atraente e rentável.
Arábica Mundo Novo
O café Arábica Mundo Novo é uma variedade conhecida por ser versátil e facilmente adaptável a diferentes condições de cultivo no país. Amplamente cultivado nas regiões de Minas Gerais, São Paulo e Bahia, é apreciado pelo sabor equilibrado, corpo médio a encorpado e acidez equilibrada.
Os grãos do Mundo Novo costumam apresentar notas de nozes e chocolate. Por isso, ele é muito usado tanto para blends como para cafés de origem única.
Sua capacidade de suportar bem diversas altitudes e climas faz dele uma peça-chave da produção de café nacional, contribuindo de forma importante para a reputação do país como produtor de café de alta qualidade.
Arábica Catuaí
O café Arábica Catuaí é uma variedade cultivada nas regiões de alta altitude do Brasil, incluindo Espírito Santo, Minas Gerais e São Paulo. Ele é conhecido por sua resistência a doenças e colheitas consistentes, por isso cafeicultores costumam investir no seu cultivo.
O Catuaí produz grãos de tamanho médio a pequeno, e o café costuma apresentar corpo médio e acidez bem presente no paladar. Já quanto ao sabor, é conhecido por suas notas frutadas e cítricas, o que também faz dele uma excelente opção tanto para cafés de origem única como para blends.
Arábica Bourbon
Para fechar com chave de ouro, temos o café Arábica Bourbon que é uma variedade renomada por sua qualidade excepcional e sabor bem característico. Em regiões de altitude elevada, como Sul de Minas Gerais e São Paulo, produtores cultivam grãos que resultam em cafés de corpo médio a encorpado, acidez suave e sabores complexos.
É comum os grãos Bourbon apresentarem notas de caramelo, chocolate e frutas maduras, proporcionando uma experiência rica e agradável na boca. Apesar de sua produção exigir um certo cuidado, ele recompensa os amantes do café com uma xícara de café Arábica de alta qualidade e que vale a pena o esforço.
A longa história do café arábica pelo mundo
Para começar, o café arábica (Coffea arabica) teve sua origem lá na Etiópia, continente africano. Mas ele ganhou o mundo, literalmente, e hoje representa cerca de ¾ de toda a produção de café do planeta.
Antes disso, ainda no primeiro milênio depois de Cristo, em 575 d.C., a planta chegou ao Iêmen, de onde seguiu para as Ilhas Reunião, de lá para a Índia e depois para a Indonésia. A partir de então, o café arábica seguiu para o continente europeu no ano de 1710 e foi só uma questão de tempo até que ele desembarcasse nas Américas.
Como os grãos de café arábica chegaram ao Brasil?
A bem-sucedida relação entre a variedade e o solo brasileiro começou em 1727, quando mudas foram trazidas através da Guiana Francesa. Conta a história que o militar Francisco de Melo Palheta trouxe as plantas de forma clandestina para o país no ano de 1727.
Depois disso, as mudas se adaptaram bem ao clima e à altitude de diferentes regiões do Brasil. Mal sabia ele que aquelas plantinhas fariam da colônia um gigante no mercado mundial de café.